domingo, 21 de junho de 2009

Filme Narradores de Javé

Relatório do filme apresentado pela professora cursista Soní Pacheco de Moura.

O filme Narradores de Javé, dirigido por Rui Pires e André Montenegro, é excelente para se trabalhar, em sala de aula, a importância da escrita e a diferença entre ela e a oralidade. Seu roteiro é pautado no conflito vivido pelos moradores do Vale de Javé, ameaçado pela possibilidade de construção de uma represa. A única saída encontrada foi realizar o relato escrito das histórias locais, a fim de que o vale seja considerado patrimônio histórico.
Entretanto, o único narrador local capaz e que sabia escrever era o Biá, que havia sido expulso do povoado, por inventar histórias fantasiosas e maledicentes sobre os moradores. Biá assume, então, o papel de escriba. Depende dele a salvação de todo o povoado, pois apenas ele pode passar para o papel as histórias locais, delegando a elas status de ciência.
Biá, contudo, é um malandro e aproveita-se da situação como pode, ouve os relatos, mas menospreza-os, considera-os impróprios para fazerem parte de um livro tão importante. Desta forma, o tempo vai passando e o livro permanece em branco. Nesse ponto, chama a atenção que a atitude do escriba, em relação à oralidade, é semelhante ao que ocorre na sociedade em geral. Possui maior prestígio aquele que domina o código escrito, sendo mais valorizada a história oficial e deixando-se de lado, muitas vezes, a história propriamente dita, que reside no imaginário coletivo e popular. Da mesma forma, os personagens do filme estabelecem com Biá uma relação de dependência, visto ser ele o único a dominar o código de maior prestígio.
Em sala de aula, muitas vezes nós, professores, exercemos a função de escriba, pois temos um domínio maior do código escrito. Essa função fica evidente em todo trabalho com a leitura e a escrita, quando procuramos trabalhar com nosso aluno as diferenças entre a oralidade e a escrita. Nesse sentido, é fundamental que não assumamos uma postura arrogante como a de Biá, valorizando um código em detrimento do outro. É preciso mostrar aos alunos que tanto a oralidade quanto a escrita são importantes, mas que ambas seguem regras diferentes e possuem características específicas, que devem ser respeitadas. Enquanto escribas da educação, cabe a nós exercermos a função de mediadores entre o código oral e escrito e nossos alunos, a fim de que os mesmos compreendam suas peculiaridades, sabendo usá-los de modo proficiente, nas diferentes situações em que são requeridos, cotidianamente

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